Justiça torna réus policiais que atiraram em homem cego na Operação Verão; PM afasta agentes
Hildebrando Neto foi confundido com um criminoso e executados pelos policiais na Baixada Santista, em fevereiro do ano passado. O amigo dele Davi Gonçalves Jun...
Hildebrando Neto foi confundido com um criminoso e executados pelos policiais na Baixada Santista, em fevereiro do ano passado. O amigo dele Davi Gonçalves Junior foi morto como queima de arquivo, segundo denúncia do Ministério Público. Jovem morto em confronto com a polícia durante Operação Verão era deficiente visual Reprodução A Justiça de São Paulo tornou réus dois policiais militares em razão da execução de duas pessoas — entre elas um homem com deficiência visual — durante a Operação Verão, na Baixada Santista, em fevereiro do ano passado. A denúncia do Ministério Público (MP) pelo crime de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e com emprego de recurso que dificulta a defesa da vítima foi aceita em 30 de janeiro pelo Tribunal de Justiça. Os PMs Nielson Barbosa Medeiros e Tiago Morato Maciel também foram afastados de suas funções e realocados na área administrativa interna da corporação. "O afastamento das atividades externas se mostra como medida cautelar necessária para evitar a prática de nova infração penal e adequada à gravidade do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais dos denunciados", justifica a denúncia. Como foi o crime As execuções aconteceram na Avenida Vereador Oswaldo Toschi, na cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, em 7 de fevereiro de 2024. No dia, Hildebrando Neto, de 24 anos, foi confundido com um criminoso e executados pelos policiais. Ele era cego de um olho e tinha apenas 20% de visão no outro. Enquanto Davi Gonçalves Junior presenciou o crime e foi morto como queima de arquivo. No boletim de ocorrência do caso, os agentes declararam que entraram na casa de Hildebrando porque: A porta estava aberta; Havia uma denúncia de tráfico de drogas no local; E porque, "quando adentraram num segundo cômodo, foram surpreendidos por Hildebrando, que apontou uma pistola”; Os policiais contaram que atiraram três vezes em legítima defesa; Davi Gonçalves, amigo de Hildebrando, estava junto com ele no momento e também foi morto sob a mesma justificativa. Denúncia do MP A versão apresentada pelos PMs não se sustenta, segundo o MP, pois Hildebrando era incapaz de manusear, empunhar e disparar arma de fogo. Ele tinha "capacidade de discernir formas a menos de 30 centímetros". O laudo necroscópico do Instituto Médico Legal também apontou que os dois tiros que mataram Hildebrando foram efetuados a uma distância de 50 a 70 centímetros, ou seja, a vítima foi baleada sem saber o que estava acontecendo. Segundo o laudo, o disparo na região lateral do tórax da vítima ainda sugere que o braço de Hilderbrando estava levantado, possivelmente em um movimento de defesa ou rendição. A partir da análise das câmeras corporais dos policiais e das filmagens de moradores, o MP também descobriu que o primeiro disparo foi efetuado 18h45min35s e o quinto às 18h53min43s. "O lapso temporal de oito minutos entre o primeiro disparo e o último comprovou a inexistência de agressão. A suposta ameaça sofrida pelos acusados não justifica ação de alegado revide que dure vários minutos dentro de um local confinado. O cômodo onde os fatos se deram é minúsculo e a presença de outra pessoa que representasse ameaça seria imediatamente identificada.", afirma a denúncia. Morto por engano Hilderbrando foi morto por ter sido confundido com Kaique Coutinho do Nascimento, conhecido como Chip, apontado como assassino do policial Samuel Wesley Cosmo da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), de acordo com o MP. No ano passado, a Operação Verão foi deflagrada em resposta à morte de Samuel com intuito de localizar o autor do crime. Os policiais tinham o endereço da casa da namorada de Kaique — mulher com quem Hilderbrando também foi casado. Contudo, ela não morava mais no imóvel. Por isso, quando os PMs chegaram no local, encontraram apenas Hilderbrando e o amigo Davi. "Hilderbrando foi morto por ter sido confundido com o assassino (CHIP) do Policial da Rota Cosmo, e Davi porque testemunhou sua execução (queima de arquivo). Para encobrir o acerto de contas da Rota, os acusados adotaram condutas para dissimular confronto e encontro de armas (pistolas e fuzil)", afirma a denúncia.